terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Narciso não engana a morte!





Eis que Narciso, este a quem o desejo se tornou inacessível, de joelhos ante ao lago, eufórico e lúbrico. O olhar, vago e puro, um abismo de vazio e expectativa ante o próprio reflexo na margem. Quis recordar-se que havia feito uma promessa a si. Prometera não alimentar anseios sobre se conhecer. Mas que ambíguo sortilégio! Pois, quanto mais negava sua fronte, mais de si sabia dizer que nada sabia. Maldito em seu destino, rogou para que a tempestade tornasse aquele espelho em pintura. Como um desfoque impressionista. Todavia, tudo que podia fazer o vento, era contemplar sua beleza. Como quem vê e pensa, diz, que é, mais do que está. Narciso é um pobre condenado, é horrendo ser tão belo e não ter sombra alguma de traços desconexos. Nem sequer em prantos, lágrimas ou soluços, ele guardou desconfiança sobre sua perenidade. A morte seria seu alívio? Desiste cedo, é belo e seu defeito é a covardia. Que seja por acaso, então, pensou. Caiu em seu colo o quão óbvio e honesto é o desígnio. Poderia dele duvidar? Ora, que malogro, não posso fugir. Na pior hipótese, logrou crer que seu destino era duvidar do que já foi escrito. Narciso é um sintoma dentro de outro sintoma, um pesadelo que vive a alma de quem não dorme em paz, de quem não sabe como dormem as crianças ou... Ou, para o inferno beleza! Pensou Narciso: - Para o inferno beleza, não essa que a todos seduz e que por sina ainda há de salvar o mundo, refiro-me a mim.   


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terça-feira, 5 de setembro de 2023

Ctônio: Memórias do Deus da morte é um livro violento?




     Saudações caros leitores. A ideia do artigo de hoje é esclarecer algumas perguntas e comentários sobre o livro e a repercussão de alguns trechos que criaram algumas polêmicas. Penso que tais dúvidas podem ser esclarecidas diante de uma única pergunta: afinal, Ctônio é um livro violento? Devo dizer que não existe uma resposta muito fácil. Isso não significa que seja simples e, que a resposta é objetiva. 
      Primeiro, é importante diferenciar os termos. Uma boa sugestão seria, deixar claro que violência em si, pura e simples, gratuita e sem objetivos, poderia ser, sim, um indício de que a obra carrega tais elementos. Todavia, este, não é o caso, pois, entendo que o termos que mais se encaixa neste contexto é: virulento. É tácito isso na leitura. Se, ser virulenta é um objetivo, ou uma consequência, então eu digo que sim. 
      Ctônio não é para leitores amadores, não é um livro de autoajuda, tem muito mais a ver com um resgate, uma episódica confissão. E, como toda boa confissão, traz nuanças ricas e particulares, em especial, as memórias do deus da morte. É nítido que a obra não tem aqueles típicos pudores de moral seletiva que se preocupam em contentar um número de leitores difusos e de pouca personalidade. Logo, Thanatos, como já afirmei em outros textos, não é flor que cheire. 
     Entendo aqui, ou melhor, na obra, que o termo virulência, seja mais adequado. Ele responde a um conjunto mais amplo e complexo de detalhes. Ainda mais quando se trata de resgatar mitos de um passado longínquo que ainda carregam muito mistério e enormes símbolos a serem retomados. É virulento porque precisa responder mais ao seu caráter viral, sua sede de atemporalidade e seus diálogos cirúrgicos, os quais, devem provocar nos leitores um conjunto de sensações diante das escolhas, o destino e as carapaças que revestem a alma humana. 
     Segue com sua virulência poética, mas não se afoga em metáforas apenas, pelo contrário, as usa como gatilho para articular, ironia e cinismo. Sei que se alguns leitores tomarem tais mecanismos como "defeitos" e não como qualidades, correm sérios riscos de odiar e não compreender a obra, mas, quanto a isso, nada posso fazer, somente lamentar. Jamais pensei que escrevia para um público ideal, e é exatamente por isso que ele se torna tocante, já que é do tipo de livro que quando começa, as portas do inferno estão abertas, isso é proposital. 
     Desse modo, para os que exigem da leitura, um desafio, uma busca pelo insondável e um flerte com o inconsciente, posso afirmar que terão uma excelente experiência. A acidez com que tudo se desenrola é retocada pelos contornos de uma trama e uma cuidadosa metanarrativa, isso permite que cada gesto e intenção dos personagens seja mais que justificado. Ansiamos pelo desconhecido quando este nos afaga com certa dose de segurança, e essa tenacidade é escancarada no livro. 
     A dinâmica com que o sacarmo é dosado, ora repentino e descompromissado como um trem veloz, ora em gotas, faz das ironias um satírico mergulho prático, quase socrático. O tempero final fica a cargo dos retoques emprestados da psicanálise, a qual, cinge os dramas e une cada retalho desconexo de milênios de história, a um banquete de alternativas. Vai do pacto entre a morte e o leitor aos personagens periféricos que tentam sequestrar a atenção dos olhos que percorrem as páginas na tentativa de envenenar-lhes os espírito e causar furor e dúvida. 
     No fundo, tudo é verdade, uma verdade mentirosa que cada personagem conta, como se esta, fosse a sua versão das outras versões. É curioso, pois, a aparente falta de linearidade não causa desconforto, ao invés disso, sorrateiramente, causa a linearidade. Eis assim, aquilo tudo que é devido e não pode deixar de existir numa ficção, tal como um prólogo do fim, algo que só poderia descambar do gênio da morte. A morte na ficção, ainda é o jeito mais honesto de se espremer a laranja antiga que nasce nos pomares de um mundo que carece de verdades.    

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quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Ctônio: Está perto da segunda parte?



     Saudações literárias aos caros leitores. Como todos já sabem, Ctônio: Memórias do Deus da morte, é uma trilogia e, aos poucos, vou retomando e organizando meu tempo para dar os toques finais na segunda parte. Felizmente, quando iniciei o projeto do livro, tive muito material escrito que ficou para o segundo ato, todavia, por questões editoriais, dividir a obra em três livros, foi uma estratégia assertiva e cuidadosamente projetada. Portanto, acalmem seus corações, em breve, teremos novidades. 
     Contudo, vejo que a temática deste rápido artigo, está focada no desfecho do livro. Sim, eu sei, os que escrevem, também vão entender, uma hora, temos que dar um final. Mas não qualquer final, especialmente diante da dinâmica do primeiro livro, sua aceitação com o público e tão bons feedbacks que carinhosamente recebi. Assim, como autor, vejo-me mais que convidado a dar um final grandioso à saga de Thanatos. 
      Entretanto, muitas ideias continuam em curso, uma em particular, é a de uma memorável batalha, talvez, a mais emblemática e decisiva na trama, ainda que, para a surpresa de muitos, tal confronto seja inesperado e pareça soar como desconectado da narrativa, asseguro aos leitores que este será muito mais que uma reviravolta, pois, o evento deixará mais evidente, tudo aquilo que eu, como escritor, pretendo dizer com Ctônio. 
     Aos que acompanham esse universo, ficarão as expectativas, porém, garanto que não vão se arrepender. Aos que não tiveram a oportunidade de ler, deixo meu convite, ficarei feliz em dividir o que aprendi como filósofo e escritor. Grande abraço a todos!  


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sexta-feira, 21 de julho de 2023

Cuidado com as palavras da "moda".





     No artigo de hoje, pretendo abordar um tema que aparenta ser "descolado", mas é importante refletir suas nuanças. De fato, a presente análise, termina por fazer mais sentido aos que escrevem, embora não deva descartar o assunto aos que se ocupam da leitura. Trata-se das palavras que estão na "moda". Isso nos pega de surpresa. Começa com o título de uma notícia, uma postagem ou um corpo dissertativo. Não importa, a coisa está no ar. Se formos um tanto neuróticos, veremos mais que o esperado. 
     Como a tentativa é um convite, não vou me ater em fazer uma lista de termos, os quais, julgo serem os preferidos desse ou daquele nicho literário. A ideia é que a provocação prevaleça, e que os leitores, tal qual os escritores de plantão, sintam-se instigados. Isso nos leva a uma pergunta:- Quem disse que precisamos usar certas palavras da "moda" para que nossos textos sejam lidos ou levados a sério? 
     Vivemos um curioso advento, o da invenção de significados. Não que isso seja proibido, quando muito, posso considerar esse recurso como um tempero do escritor. O que perturba, muitas vezes, é que muitas narrativas contemporâneas, estão empanturradas de colóquios coloridos, decorados de contornos sofisticados, mas que, em suma, são vazios, pouco eficazes e muito, mas muito bregas. 
      Ao que tudo indica, aos mais inexperientes, existe um consenso. O de que se o texto carrega uma imensa gama de palavras do momento, isso serve como a receita do sucesso, (coisa do algarítmico?) O problema é que, não! De forma alguma, um conjunto de palavras bem escolhidas, seja pela inteligência artificial, ou pelo belo repertório da leitura de autoajuda, não é garantia de uma obra bem elaborada. Quando muito, isso pode soar, de início, como uma boa largada, entretanto, no que se refere a uma escrita elabora, esse conjunto de verbetes, mais atrapalha, que ajuda. 
     Lembremo-nos dos clássicos, esses que assim são chamados pela sua capacidade universal de se manterem atemporais. Imagina Dostoiévski ou Shakespeare, escrevendo suas grandes obras, reféns de um compêndio de palavras, ao invés de assumirem suas reais funções de legistas da gramática, ao dissecarem os sentimentos humanos, presos a um método tão espúrio? 
     A ideia é mais simples que parece. Quer escrever, escreva com o coração, depois ajuste com a mente, como já disse o poeta. Esse, ainda é o método mais eficaz, pois, faz surgirem verdades inconscientes que se relacionam com a realidade. É exatamente o contrário de um desejo vaidoso de se mimetizar uma falsa capacidade que se mostra insustentável depois da segunda página. Quer uma boa referência? Comece com os grandes. É impossível ser enganado, seja na condição de leitor ou de escritor, um espírito astuto que tem em sua bagagem, as prerrogativas de um Otto Maria Carpeaux, por exemplo. E que tal, uma boa base histórica como Heródoto? 
     Sem contar, os que, hoje, usam de um presentismo imoral, para criticar o passado com suas metáforas pífias, crendo avaliar decisões e julgamentos de natureza monumental, munidos tão somente de impressões caricatas que compraram das páginas recalcadas do pensamento secularista... Não é de se estranhar que com tais arremedos, o aspirante à escrita, ou mesmo o leitor mediano, se sintam muito confortáveis ao pressupor que a Idade Média, resume-se exclusivamente em um período negro da história onde queimavam bruxas a cada 30 minutos. Hajam bruxas. Nem hoje, momento aborrido, onde o mundo é uma invenção pessoal de cada um dos 8 bilhões de seres humanos, isso é tão possível. 

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quarta-feira, 19 de julho de 2023


     Hoje, tive uma inusitada surpresa. O agradecimento, certamente, é aos leitores de Ctônio: Memórias do Deus da morte, pois, descobri que algumas resenhas muito interessantes circulam pela internet. Em especial, a pesquisa do Google, a qual, traz não só uma e nem duas, mas 23 resenhas sobre a obra. Embora não tenha como saber exatamente quem são as pessoas que dedicaram seu tempo para redigir algumas linhas para descrever suas valiosas impressões, chamou-me atenção, que muitos leitores estão engajados e esperam ansiosamente a sequência do livro. Aos leitores do Blog, Facebook e Instagram que desejam conferir, deixamos aqui, link: 
https://books.google.com.br/books/about/Ct%C3%B4nio.html?id=9CsXEAAAQBAJ&redir_esc=y 


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quinta-feira, 6 de julho de 2023

A jornada de Thanatos é o relato de um anti-herói?




     Ctônio é uma obra de engenharia reversa, portanto, a jornada do personagem se mostra desde o começo como uma busca obscura e pessoal. Nas primeiras páginas tomamos conhecimento dos conflitos que assolam a mente de Thanatos, e este, pretende resolvê-los, custe o que custar. Não demora para que o leitor sinta-se envolvido pela melancolia do protagonista, pois somos avisados que há uma relação muito estreita entre nossas insatisfações interiores e as do deus da morte. 
     A ambientação é dinâmica, e a fluidez temporal causa certo desconforto, mas isso é proposital. Ctônio é uma obra que mescla o clássico dos gregos antigos com as peculiaridades de outros panteões como: as montanhas da China, as terras secas e quentes da África, seja na cultura egípcia ou mesmo nos recantos dos Orixás. Há também uma dose de eventos que se desenrolam no politeísmo hindu e saltos que nos carimbam a passagem nas gélidas planícies nórdicas e na fé em construção dos cristãos. Tudo isso é curiosamente dosado e temperado com uma leve redução Cyberpunk, tempero esse que identifica e imprime sua marca pessoal, segundo o autor. 
     Sobre a engenharia reversa, isso tem a ver com o método literário de L.M. Dourado. Ele não queria excluir de sua receita, a velha e boa substância da famosa jornada do herói. Contudo, até onde podemos inferir, Thanatos, não é exatamente um herói, talvez carregue algumas nuanças. Desta maneira, é possível que o leitor o qualifique numa categoria menos exigente, e assim, o pense como um anti-herói. Nesse banquete poético, fica explícito que as provocações de Thanatos ao leitor e seu modo de interagir com os outros personagens é seu maior desafio. Desafio esse, que nos reconta o passado como uma voz inconsciente. 
     No término de uma leitura tão imersiva, a ideia é que os leitores sintam que algo deixou de ser dito e que muito daquilo que conquistaram, torna-se para eles, um patrimônio, algo que deva ressoar em nossas histórias pessoais, ainda que no terreno das ideias. É nesse ponto que surgirão através da leitura, uma coleção de questões particulares, e se isso de fato acontecer, pode-se dizer que o objetivo da obra foi alcançado.     
     
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quarta-feira, 5 de julho de 2023

Ctônio é um livro disruptivo?




     Não! Definitivamente, Ctônio não é um livro disruptivo e explico por quê. De forma alguma, quando me lancei nesse desafio, minha intenção era a de sinalizar através da obra, algum tipo de tendência que divergisse daquilo tudo que me foi valioso como referência criativa ou moral. Há quem faça uma leitura presentista do livro e queira por instantes, sugerir que seu modo ousado e galhofeiro de dar voz ao deus da morte, soe como disruptivo. Entretanto, não, não tem como ser, visto que a obra é mais como um tipo de retorno, do que uma aparente quebra de estilo. Isso não só desqualificaria o esforço como seria um apelo patético e ofegante aos ideais mais sórdidos de uma visão limitada ao secularismo. 
     Por vezes, a poética e o cuidado com as palavras, escolhidas com esmero para dirigir o olhar do leitor para "dentro" da literatura, jamais poderia ser visto como um mero gracejo estilístico, desses que hoje são muito comuns, algo do tipo verborrágico e sem sentido, como se nessa ausência de sentimento fôssemos encontrar um sentido maior. Logo, isso está longe de ser disruptivo porque se assim o fosse, a obra mesma não careceria de um projeto a ser concretizado em três livros. Para tal fim, bastaria um, já que distopias assim tão disruptivas não tendem a durar, tampouco se alongarem tanto. 
     O fato é que se Ctônio existe hoje, é porque ainda há muito para ser dito. Especialmente, essa forma, seu estilo, uma ficção, ou romance como sugerem alguns, é sem sombra de dúvidas, uma epopeia que depende de outros tantos clássicos que no cerne da narrativa, são revistados, recontados e fortalecidos. Se em alguns episódios podemos sentir nuanças de algo desmantelador, é notório que carregam uma razão de ser, e nada que traz um compromisso assim tão nobre, deixaria sua arquitetura quase barroca, resvalar para um universo amorfo e sem significado, somente para afirmar que possui um.
     É provável que algumas estratégias possam confundir, como as que foram usadas para descrever e remontar atmosferas tão oníricas como a Grécia arcaica ou o consultório de Freud em Viena. Todavia, conforme a tensão dos personagens desnuda seus íntimos e, seus conflitos se tornam mais viscerais, podemos notar que a obra mais resgata do que pretende desconstruir. 
     Portanto, ao leitor que aceita o célebre convite de fazer parte do universo de Ctônio, reserva-se todo um espaço de releituras, onde os detalhes são a chave para uma caixa invisível na qual é perceptível que em seu interior existe uma agulha e uma linha cuidadosamente deixadas para que a vida das palavras permita uma sutura real e simbólica entre o mito e seus mais secretos contornos. As verdades mentirosas no texto são um artifício para emanarem verdades psicológicas de cunho coletivo, e disso vemos e presenciamos o exame de uma história única contada com elementos familiares.      



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Narciso não engana a morte!

Eis que Narciso, este a quem o desejo se tornou inacessível, de joelhos ante ao lago, eufórico e lúbrico. O olhar, vago e puro, um abismo de...